A morte do Orkut está trazendo à tona um dos efeitos colaterais de uma sociedade imersa no mundo virtual, a falta de relacionamento que temos com nossos registros. Ao longo da nossa história, a humanidade se empenhou em criar registros da sua vida na terra. Através da análise desses vários registros e de sua alocação em uma linha do tempo é que conseguimos compreender os povos do passado e como isso reflete na cultura atual. Como isso funciona quando esse tipo de informação está aprisionada em placas e discos que necessitam de tecnologia compatível para se tornar legível?
Não iremos sofrer com falta de registro e isso é fato. A sociedade atual produz mais informações sobre si do que todas as gerações anteriores juntas. Hoje em dia, uma garota adolescente tem mais auto-retratos seus em uma festa do que muita moça do Império brasileiro ao longo da sua vida. Graças a internet, nós também consumismo muito mais informações - sendo ela curiosidade, notícias inúteis, longos artigos, livros e filmes de qualquer país. Ainda assim, parece que nossa sociedade precisa arrumar alguma forma de se relacionar com esse tipo de conteúdo de uma forma mais pessoal do que tê-las dentro de caixotes de discos rígidos de cópias de segurança guardadas em alguma empresa no exterior.
Recentemente, com o anúncio do encerramento da rede social Orkut, que foi a primeira forma de identidade virtual de muitos brasileiros, um grupo de pessoas criaram um evento bastante curioso no Facebook. Se trata de um "Mutirão pra printar o Orkut inteiro até setembro", o mês de encerramento da rede. O objetivo dessas pessoas é conseguir manter o registro das comunidades do orkut que contribuíram para a formação da cultura popular. Os fóruns de discussões, as gafes, os ídolos, todos eles estão lá dentro. Para aqueles que deletaram as suas contas no Orkut, é impossível ter acesso a esse tipo de informação, que não seja através de cachês do Google ou sites especializados nisso (como o Way Back My Machine).
Como era a sociedade brasileira nos anos 2000? Como você era em 2006? O que você fazia para se distrair em 2008? Tudo isso não será possível ser "provado" da mesma forma como as gerações pré-web 2.0 faziam com os álbuns de família e as caixas cheias de cartas e recortes de jornal.
Isso fez com que refletíssemos sobre a durabilidade da informação que produzimos e consumimos. De alguma forma, nós ainda temos a necessidade de tornar físico o conteúdo digital para termos de fato uma segurança sobre aquilo que é nosso. Precisamos sentir que somos dono do que produzimos.
Pode ser que printar o Orkut não seja de fato efetivo, mas há por trás desse evento o sentimento de que devemos dar importância para tudo aquilo que deixamos para trás na internet e a dura verdade de que a internet não é igual ao mundo físico e que tudo dentro do seu computador não é eterno.